O dia em que o vento foi nomeado conselheiro cultural
Na assembleia municipal, uma proposta incomum foi aprovada com entusiasmo: nomear o vento como conselheiro cultural da cidade. A justificativa era simples e poética: ninguém conhece melhor as ruas, os becos, os telhados e as praças do que ele, que circula por todos os cantos sem pedir permissão. Durante a cerimônia, microfones captaram apenas sopros suaves, interpretados como um discurso de boas-vindas. A população aplaudiu de pé, convencida de que a decisão simbolizava abertura para novas formas de sabedoria.
Após a posse, começaram os trabalhos. O vento visitou escolas, levantando papéis e risadas, percorreu feiras de bairro levando aromas de especiarias e fez questão de circular pelas salas de ensaio dos grupos culturais, espalhando partituras no ar. Cada gesto era visto como sinal de incentivo, e artistas passaram a agradecer publicamente pela “curadoria atmosférica” recebida. Não havia dúvida: o vento levava ideias e devolvia inspiração.
Animada com o resultado, a assembleia já discute novas nomeações. A chuva poderia assumir a secretaria de bem-estar, o sol teria um cargo de assessor de vitalidade e até a brisa da madrugada foi cotada para cuidar de políticas de juventude. Afinal, se a natureza já está em todos os lugares, por que não formalizar sua presença no governo?